10 agosto 2009

O Buraco é mais embaixo.

Muitos devem ter lido a Folha de sexta-feira, 7 de agosto. Mas para quem não leu, vale a pena ler e pensar.
Pensar sobre, como escreveu Luiz Felipe, o impulso fascista moderno.


As freiras feias sem Deus

LUIZ FELIPE PONDÉ
COLUNISTA DA FOLHA

O QUE MOVE as pessoas, em meio a tantos problemas, a dedicar tamanha energia para reprimir o uso do tabaco? Resposta: o impulso fascista moderno.
Proteger não fumantes do tabaco em espaços públicos fechados é justo. Minha objeção contra esta lei se dá em outros dois níveis: um mais prático e outro mais teórico.
O prático diz respeito ao fato de ela não preservar alguns poucos bares e restaurantes livres para fumantes, sejam eles consumidores ou trabalhadores do setor. E por que não? Porque o que move o legislador, o fiscal e o dedo-duro é o gozo típico das almas mesquinhas e autoritárias. Uma espécie de freiras feias sem Deus.
O teórico fala de uma tendência contemporânea, que é o triste fato de a democracia não ser, como pensávamos, imune à praga fascista.
A tendência da democracia à lógica tirânica da saúde já havia sido apontada por Tocqueville (século 19). Dizia o conde francês que a vocação puritana da democracia para a intolerância para com hábitos inúteis a levaria a odiar coisas como o álcool e o tabaco, entre outras possibilidades.
Odiaremos comedores de carne? Proprietários de dois carros? Que tal proibir o tabaco em casa em nome do pulmão do vizinho? Ou uma campanha escolar para estimular as crianças a denunciar pais fumantes? Toda forma de fascismo caminhou para a ampliação do controle da vida mínima. As freiras feias sem Deus gozariam com a ideia de crianças tão críticas dos maus hábitos.
A associação do discurso científico ao constrangimento do comportamento moral, via máquina repressiva do Estado, é típica do fascismo. Se comer carne aumentar os custos do Ministério da Saúde, fecharemos as churrascarias? Crianças diagnosticadas cegas ainda no útero significariam uma economia significativa para a sociedade. Vamos abortá-las sistematicamente? O eugenista, o adorador da vida cientificamente perfeita, não se acha autoritário, mas, sim, redentor da espécie humana.
E não me venha dizer que no "Primeiro Mundo" todo o mundo faz isso, porque não sou um desses idiotas colonizados que pensam que o "Primeiro Mundo" seja modelo de tudo. Conheço o "Primeiro Mundo" o suficiente para não crer em bobagens desse tipo.
O que essas freiras feias sem Deus não entendem é que o que humaniza o ser humano é um equilíbrio sutil entre vícios e virtudes. E, quando estamos diante de neopuritanos, de santos sem Deus, os vícios é que nos salvam. Não quero viver num mundo sem vícios. E quero vivê-lo tomando vinho, vendo o rosto de uma mulher linda e bêbada em meio à fumaça num bistrô.

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Luiz Felipe Pondé é colunista da Ilustrada

3 comentários:

Ozenilda Amorim disse...

Gostei do texto, chama a atenção para algo que vejo, no Brasil, tem graçado em várias áreas em nome da democracia, esse facismo do qual ele fala é mais perceptível do que muitos pensam. Gostei também do termo: freiras feias sem Deus, muito bom.
;)

Paula Mello disse...

Oi, Su! Adorei o novo visual do blog, ficou lindo!! Esse texto é bem verdade, daqui a pouco vamos começar a "malhar" as pessoas por qualquer coisa...
A Humanidade é assim mesmo, sempre arrumando problema para si!
Vai entender...
Dei uma olhada no seu portfolio, muito lindo, adorei!! E, pelo seu telefone, acho que moramos no mesmo bairro...Além de trabalhar com a mesma coisa...Será?
Uma semana iluminada!

Unknown disse...

Oi Suka, passei para lhe dizer que o meu bloguinho vai completar 01 ano e tem promoção para as amigas blogueiras!! Passa lá e veja como participar. Beijos e boa sorte!!